© "Via sacra"  Bill Ross
 

Janeiro - 2011

 

A Tua Palavra Ilumina os Meus Passos

 

Génesis

Isaac torna-se pai de dois gémeos
 Esaú e Jacob
Génesis c.25, 19-34
   
Autora: Nicoletta Crosti
 

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Na história dos patriarcas, Isaac tem pouca relevância, é uma pessoa a quem falta uma vincada personalidade própria. É apresentado segundo o modelo do pai e apenas uma figura de ligação entre os dois grandes patriarcas: Abraão e Jacob.

v.19-20 Esta é a descendência de Isaac. A promessa de progenitura continua a acontecer. Recorda-se a matriarca Rebeca, cuja família está ligada à de Abraão, que é a origem da promessa.

v. 21 Isaac suplicou ao Senhor por sua mulher, porque esta era estéril... o Senhor ouviu-o. Retoma-se o tema da esterilidade da mulher, como já tinha acontecido com Sara.

O autor vê nisso uma intervenção directa de Deus que supera todos os obstáculos e concede uma fecundidade extraordinária onde não existe a fecundidade ordinária (Gn 1,28). Não é necessário pensar num milagre, mas sim numa sequência de circunstâncias que favoreceram a concepção. Uma mulher daquele tempo era considerada estéril se não gerava rapidamente filhos, na idade entre os doze, treze anos.

v. 22a Ora os filhos lutavam dentro dela… é uma antecipação literária do que será a relação conflituosa entre os dois irmãos.

v. 22b Se é assim porquê eu? Ou seja, nestas condições, vale a pena ser mãe?

v. 22c Consultou o Senhor. Naquele tempo era muito comum consultarem-se os profetas ou os “homens de Deus” para conhecer a vontade de Adonai. O homem de Deus era mediador entre o requerente e o próprio Deus. Era um homem que não se deixava corromper, não aceitava presentes, nem se deixava instrumentalizar. De início, as perguntas referiam-se a necessidades pessoais (1Sm 9,1-10); depois, diziam respeito às necessidades do povo (2Cr 18,4-34). No tempo do rei, tudo isto se passava fora do culto. Mais tarde, os pedidos estariam ligados às necessidades do ambiente do culto e do sacerdócio.

vv. 23-24 O Senhor respondeu-lhe: duas nações estão no teu seio… o mais velho servirá o mais novo. As duas nações serão Israel e Edom. No seio da mãe, é já prefigurada a situação histórica, que durou um longo tempo, das guerras entre os dois povos, que derivavam de um tronco comum. Historicamente, Edom forma-se primeiro do que Israel, inclusive como monarquia (Js 24,4). Os Edomitas opõem-se aos Israelitas desde o início (Nm 20,14-21). No Salmo 137/136,7-9 e em Amós 1,11 vem referida a sua perfídia. O autor escreve depois da conquista do território dos Edomitas (2 Sm 8,13-14; 1Re 11,14-25) por David (X século a.C.). Edom permanece tributário de Israel até ao rei Jorão (848-841 a.C.).

v. 25 Dois gémeos estavam em seu seio. O que nasceu primeiro, avermelhado e peludo, como um manto de pêlo, foi chamado Esaú. Estas duas características de nascença de Esaú prefiguram o seu futuro: dará origem aos Edomitas, que viveram na zona do monte Sear, o que em hebraico significa “vestido de pêlo”. O autor também justifica o nome Edom com uma etimologia popular; “adom” que, em Hebraico, significa “avermelhado”, “vermelho”.

v. 26 ... e segurava na mão o calcanhar de Esaú; foi chamado Jacob. O autor faz derivar o nome de Jacob da raiz da palavra ‘jacab’ = substituir, fazer armadilha (donde deriva a palavra calcanhar). Será esta uma característica deste patriarca. A etimologia correcta é “ja aqob”, “que Deus proteja”.

v. 27 Naquela época, a Palestina era muito arborizada e viviam lá dois tipos de população: a dos caçadores e a dos pastores. Estes últimos levavam uma vida mais regular, de maior progresso, uma vida sedentária, sendo nómadas apenas durante alguns meses por ano. Eram agricultores, artesãos, domesticavam animais. Por sua vez, os caçadores viviam inseridos numa natureza não cultivada e usavam a violência e a astúcia para sobreviver. Não tinham vida social, nem regras comunitárias, eram livres e selvagens. As duas populações não eram solidárias, viviam relações muito tensas. Na época de Salomão, os edomitas saqueavam as caravanas que traziam ao rei as mercadorias do sul. O desprezo dos israelitas pelos edomitas transparece pelo modo negativo como é descrito Esaú.

v. 28 Isaac preferia Esaú porque admirava imenso a sua caça. A mãe preferia Jacob porque ele era mais tranquilo e dele será cúmplice no roubo da bênção a Esaú.

v. 30 Peço-te, dá-me a comer um pouco desse alimento vermelho, aquele vermelho… O autor faz uma caricatura de Esaú, que é apresentado como um instintivo, que só se preocupa em ter resposta imediata às suas necessidades, isto é, a fome e o cansaço.

Esaú representa a avidez do homem que quer tudo rapidamente. Esta atitude de Israel durante o caminho no deserto é considerada negativa, ligada à incapacidade de confiar em Deus (Es 16,2-3; 17,3; Nm 11,4). É a atitude típica de quem não conhece a fadiga e a espera, necessárias para atingir o verdadeiro bem.

v. 31 Jacob disse: vende-me agora a tua primogenitura. O autor apresenta Jacob como um homem astuto e calculista, que sabe retirar grandes vantagens das circunstâncias.

v. 32 Eis que estou morrendo: de que me serve a primogenitura? O v. 34b dá o comentário do autor a esta frase. É um juízo de desprezo, porque não consegue perceber os grandes dons do Senhor. Atitude similar à de muitos cristãos de hoje que não sabem agradecer a Deus as graças que recebem nos sacramentos. Esaú não está à altura do seu papel de primogénito, que tudo herda do pai e, neste caso, a promessa de descendência e da terra.

v. 33 E ele jurou-lho e vendeu a primogenitura a Jacob. Em Hb 12,16, Esaú é apresentado como um profanador dos dons de Deus.

Esaú perdeu tudo quanto lhe pertencia legitimamente, a primogenitura, porque não lhe percebeu o valor. Pelo contrário, Jacob, com outra sensibilidade, compreendeu o seu valor, e é isto que o autor quer enfatizar. Porém, a forma como Jacob se comporta, ao aproveitar-se de um momento de fragilidade do seu irmão, deixa-nos perplexos.

Jacob torna-se assim herdeiro da promessa de Abraão. O autor vê em tudo isto um plano do Senhor que, antes do nascimento dos dois gémeos, já tinha previsto que o maior haveria de servir o menor. A história da salvação insinua-se através das facetas dos comportamentos humanos, frequentemente não lineares e contraditórias. O autor insiste em querer mostrar que o plano da salvação se desenvolve pelo puro dom de Deus e não pelo mérito das personagens, que são, de vários modos, miseráveis. O autor não se escandaliza pela miséria dos homens, pelo contrário mostra que

Deus serve-se de todos para levar avante os seus planos, demonstrando, assim, o seu poder que vence também com meios que podem parecer inadequados.

   

Tradução: Ana Luísa Teixeira

   

   

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